Por Luciene Rodrigues
A psiquiatra Ana Yuri Matsumoto se perguntava desde residência médica: o que é afinal normalidade? Convivência diária com pacientes estigmatizados como “loucos” revelou linha entre “normal” e “anormal” é mais tênue sociedade admite. Desta inquietação paradoxal, Ana Yuri Matsumoto reúne histórias crônicas em edição comemorativa, revista e ampliada do livro Louco é quem me diz, que retorna aos holofotes em 2025 para continuar debate saúde mental em uma sociedade que teima em rotular.
Publicada pela primeira vez em 21/Out de 2005, a obra se tornou leitura recomendada em cursos Psicologia e referência no debate sobre saúde mental. Lançamento nova edição deve ocorrer na sexta-feira (10/Out), às 19h, na Livraria Travessa Shopping CasaPark, em Brasília (DF).
O “louco” espelha humanidade
Livro reúne relatos pacientes em internação psiquiátrica, trazendo experiências singulares espelham aspectos universais condição humana. Entre eles, homem com Transtorno Delirante Persistente acreditava pomba no pátio era microcâmera secreta filmando passos seus; paciente com Transtorno Bipolar e duas graduações, alternava fases euforia e depressão ao ritmo conquistas profissionais e quedas abruptas; e jovem mulher vivia como não houvesse limites para podia fazer, viver ou imaginar.
Com escrita envolvente e acessível, Matsumoto aproxima leitor dores, contradições e sonhos personagens reais, revelando pontos contato entre eles e qualquer um. Nova edição traz crônicas inéditas, revisões histórias originais e ilustrações exclusivas artista visual Luda Aquareluda, que dão nova dimensão ao projeto.
Primeiras crônicas nasceram nos tempos residência Psiquiatria, no Hospital Base Brasília, e foram publicadas forma artesanal em 2005. Repercussão foi imediata, surpreendendo autora, que hoje tenta combater o estigma que perdura com ajuda da arte.
Cultura deve acolher
Para psiquiatra, cultura deveria acolher, não excluir. “O ‘louco’ habita no outro pode ser reconhecido em cada um nós, e isso é parte do nos torna humanos. Assim como nas aquarelas, cada cor é única, mas sempre há tonalidades em comum. É nessa semelhança que encontramos a ponte para aceitar as diferenças”, afirma.
Relançamento ocorre em contexto delicado: período pós-pandemia, marcado aumento nos índices suicídio, casos cyberbullying, falas psicofóbicas e crimes relacionados a transtornos mentais. Enquanto isso, acesso informação e cuidados em saúde mental continua insuficiente, o que evidencia a necessidade urgente de obras como esta. Projeto reedição contou com apoio Fundo Apoio à Cultura Distrito Federal (FAC).
