Na segunda-feira (15/12), o Clube do Choro foi palco de uma noite histórica. O Instituto Rosa dos Ventos reuniu dezenas de ialorixás, artistas e detentores de saberes e manifestações tradicionais da nossa cultura para anunciar o lançamento do Circuito Patrimônio Vivo, que consiste em uma agenda de ações e projetos robustos para a preservação e valorização desses bens tão importantes para nossa identidade. O evento também contou com representantes de instituições ligadas à cultura e ao patrimônio.
Entre as ações anunciadas no encontro está o primeiro Festival do Patrimônio Brasileiro da história, que vai ocorrer na capital da República, na Ceilândia, em março. “Porque Brasília é essa cidade pulsante, profunda e incrível, com tantos detentores e tantos espaços importantes. E não tinha como não juntar vocês para anunciar essa novidade”, declarou a presidenta do instituto, Stéffanie Oliveira, referindo-se à platéia repleta de figuras ilustres da cultura brasileira, homenageados na cerimônia.
Visivelmente emocionada, Stéffanie também revelou a realização de um sonho para os povos de terreiro de todo o DF. “Nós, o Coletivo das Yás, Fundação Banco do Brasil e a Fundação Palmares, sonhamos, há muitos anos, em devolver as 16 estátuas para a Praça dos Orixás, e, em 2026, isso vai acontecer”, prometeu a presidenta. A revitalização de um dos principais espaços sagrados do DF é um símbolo poderoso contra o racismo religioso, haja vista que as estátuas que representam as entidades sagradas de religiões de matriz africana são alvos constantes de vandalismo resultante do abandono da praça pelo poder público local.
Patrimônio Vivo
Com o Circuito Patrimônio Vivo, o instituto reafirma a sua missão de difundir os Patrimônios Culturais e Imateriais, tais como: Praça dos Orixás, Festa das Águas, Tabuleiro de Acarajé, Samba de Roda, Bumba Meu Boi, Maracatu, Frevo, Mamulengo, Samba Enredo, Forró, Hip Hop, Choro, Repente, Capoeira e Cordel.
O evento teve o objetivo de celebrar os bens culturais e reconhecer mestres, guardiãs e saberes que mantêm viva a cultura brasileira. Entre os homenageados, estavam Zenga Baque Angola, Coletivo da, Bumba Meu Boi de Seu Teodoro, Fuá de Seu Estrelo, ARUC – Unidos do Cruzeiro, ASSFORRÓ – Associação de Forrozeiros do Distrito Federal, DJ Raffa Santoro, Atitude Feminina, GOG Poeta, Brasil Style B. Girls, Sambadeiras de Bimba, Clube do Choro do Distrito Federal, Seu Donzílio – Repente e Parêa Comunicação.
Encontro das Mestras, Mamulengo Sem Fronteiras, Mamulengo Presepada, Mamulengo Circo Boneco e Riso, Yalorixá Mãe Baiana de Oyá, Yalorixá Vilcilene de Jagun, Mestre Formiguinha, N’Zinga Capoeira Angola, Menino de Ceilândia, Orquestra Marafreboi, Mestre Danadinho (in memoriam), Projeto Tudo Começa no Tambor, Mestra Martinha do Coco, João Santana e Mamulengo Fuzuê também foram celebrados pelo encontro.
O presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Leandro Grass, elogiou o trabalho da Rosa dos Ventos na preservação de valorização de bens culturais fundamentais para a cultura do DF e do Brasil. “Hoje é uma entrega importante, porque está sendo feito pela Rosa dos Ventos, todo o trabalho com o Patrimônio Vivo, que vai se consolidar, em março, com o grande Festival do Patrimônio Cultural Brasileiro, que nós faremos com vocês e com os mestres e mestras que virão de outras partes do Brasil. Isso tem muito a ver com o resgate que está sendo feito, em nosso país, da cultura como um todo”, ressaltou Grass.
Um dos maiores nomes do rap do DF e do Brasil, GOG também marcou presença na celebração e lembrou da importância do movimento Hip Hop para as juventudes das periferias brasileiras. “Eu faço parte de um movimento no planeta há 52 anos. E não teve política pública para a juventude mais eficiente para as periferias do que o hip hop”, assinalou o rapper, que ressaltou os desafios que persistem para as populações periféricas.
“Quando falamos de patrimônio, falamos de edificações, de escrituras, de ancestralidade, mas, no Hip Hop, o nosso patrimônio segue avariado, desconsiderado, machucado: os nossos corpos. Os corpos negros e periféricos continuam não tendo valor para esse Estado, que mantém o estado das coisas como estão”, avaliou o GOG, que parabenizou o Instituto Rosa dos Ventos pela construção de um projeto potente voltado para o Patrimônio Vivo.
Praça dos Orixás
De janeiro a junho, a Praça dos Orixás será palco de atividades contínuas como, feiras culturais, rodas de saberes, encontros inter religiosos e celebrações, que reafirmam o território sagrado à beira do Lago Paranoá como ponto de convergência e tradições afro candangas.
Já o Territórios Afro-Candangos realiza, entre janeiro e abril, vivências, celebrações, partilhas e formações sobre as expressões afro-brasileiras e suas memórias de resistência em 26 terreiros de religiões de matriz africana de todas as regiões do DF.
Entre 13 e 14 de março, o Festival do Patrimônio Brasileiro reúne, em sete territórios do DF, mestres, artistas e coletivos guardiões dos bens culturais reconhecidos pelo país. Exposições, rodas de conversa, apresentações e rituais tomam o Conic, a Praça dos Zumbis e o Sesi Lab, transformando Brasília em palco da diversidade cultural brasileira.
A tradicional Festa das Águas, entre 31 de janeiro e 2 de fevereiro, celebra as mães das águas, Iemanjá e Oxum, com oferendas, cortejos e programação artística na Praça dos Orixás. Em 30 de maio, a Corrida das Águas une corpo, território e consciência ambiental, convidando a cidade a refletir sobre cuidado, memória e relação com as águas. Em agosto, o encerramento do ciclo é com os tambores do cerrado do São Batuque. A festa vai unir samba de roda, reinados e batuques populares, rearmando o tambor como símbolo de continuidade e pertencimento.
Já o Circuito Praça Afro-Candanga constitui o processo contínuo de revitalização, manutenção e ocupação cultural da Praça dos Orixás, afirmando o espaço público como território de memória, convivência e patrimônio vivo.
Instituto Rosa dos Ventos
A Rosa dos Ventos surgiu em 2011 com intuito de pesquisar, difundir, produzir, comunicar e fomentar a arte que carrega em sua essência a identidade brasileira, abrindo caminhos em todas as direções e desbravando os segmentos da música, do teatro, da dança, do cinema e da literatura. Essa corrente converge para o fomento às culturas populares e de matrizes africanas, além dos efervescentes movimentos culturais das periferias do Brasil.
A associação traz, em seu barco, festivais de música e teatro, agenciamento de artistas, montagem de espetáculos, livros, filmes, oficinas artísticas, entre outras criações, que têm em seus conteúdos a pluralidade de um povo diverso e rico em cultura.











