A história da música de concerto para cordas desenha um arco que conecta o barroco italiano às expressões nacionalistas e modernistas do século XX. No centro dessa jornada, encontramos o Concerto para dois violinos em Lá menor, RV 522 de Antonio Vivaldi. Publicado em L’Estro Armonico (Op. 3, No. 8), ele é um modelo canônico do concerto grosso barroco, onde um pequeno grupo solista (o concertino) dialoga com a orquestra (oripieno). Sua forma clara, a energia rítmica e o uso do contraponto definiram a linguagem instrumental que influenciaria gerações.
Saltando séculos, o Mini concerto grosso para cordas de Cláudio Santoro evoca Vivaldi já no nome. Santoro, um modernista brasileiro, faz aqui uma referência formal explícita à estrutura barroca. No entanto, ele a preenche com uma linguagem harmônica dissonante e rítmica tensa, transformando o conceito de diálogo entre grupos.
O nacionalismo e o folclore brasileiro entram em cena com Mourão de César Guerra-Peixe e os Quatro Momentos no. 3 de Ernani Aguiar. Guerra-Peixe, compositor e musicólogo, buscou nas raízes populares a essência de sua obra. Mourão, com sua melodia marcante e sabor regional, é uma homenagem à música popular nordestina. Aguiar, por sua vez, também utiliza o folclore como alicerce, tecendo um lirismo brasileiro em seus momentos.
Fechando o círculo, o Andante Festivo de Jean Sibelius, apesar de não ser um concerto grosso, é um hino solene e elegante, adaptado para orquestra de cordas. Ele compartilha com os compositores brasileiros o uso da orquestra de cordas para evocar uma profunda expressão nacional e lirismo.
Assim, o diálogo rítmico de Vivaldi se transforma na revisitação formal de Santoro, na alma folclórica de Guerra-Peixe e Aguiar, e na dignidade nacional de Sibelius, provando
a versatilidade e a atemporalidade do conjunto de cordas.













